QUANDO O VENTO SOPRA
Blowing in the wind
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Que força é essa?
Sou vento, fogo, folha e árvore
Espírito, paixão e sonho
Ilumino, aqueço, brilho
Aciono.
Sou matéria e força
Atualidade, vitalidade, instabilidade
Metamorfose e movimento.

Nesta edição o SOLAR dá luz ao passado com suas narrativas ancestrais para construir novos imaginários e significados para o futuro, propondo uma reflexão sobre a importância dos sonhos e do seu poder transformador. Num tempo em que o mundo se projeta a partir de algoritmos e estatísticas, reduzindo o sonho à sua dimensão de devaneio ou delírio, é urgente voltar a imaginar e lançar pistas para possíveis futuros. Não ter medo de SONHAR é um tema indispensável para a compreensão do nosso tempo e que se alastra para todos os domínios da vida política, econômica, social e cultural.

A Exposição que anima esta II edição do Vento SOLAR: QUANDO O VENTO SOPRA questiona a estrutura da vida a partir da sua capacidade mais extrema: a da metamorfose e movimento. Nesse fluxo constante e “maravilhamento” pela vida, os artistas espalhados nesta mostra coletiva, apresentada em sopro, ao ar e ao vento, exploram o espectro multifacetado do visível: Do ar vivificante que respiramos ao mistério dos sonhos, a arte torna o invisível - visível de muitas maneiras. Esta coleção de obras visa tornar este elemento visualmente tangível. Elas tratam dos mais diversos aspectos e significados do invisível e examinam suas manifestações na história, mitologia, ecologia, ciência, cultura e política.

Será que afinal é possível desenvolver uma forma luminosa de olhar para o mundo, mas também para a fotografia? Num mundo onde velhos ciclos de opressão assumem continuamente novas formas, o que é que a fotografia pode oferecer, para que possamos imaginar um caminho possível?

Blowing in the Wind A partir da metáfora da transformação da lagarta em borboleta, a  vida é indissociável de uma identidade anatômica e ecológica específica em que todos os seres vivos participam numa existência única.

A edição atual – ancorada no tema da magia e dos sonhos – reúne o trabalho de artistas dos vários continentes e tenta refletir sobre o fluxo constante de imagens constelares, articulando essa imaginação. A coleção oferece uma variedade de propostas para chamar a atenção para aquilo que há muito se coloca na periferia, esses criadores de imagens nos mostram as possibilidades que estão a desafiar as narrativas dominantes.

Alguns trabalhos nos sussurram com insights adquiridos pela experiência vivida, nos empurrando para novas formas de ver e, consequentemente, gerando novas perspectivas sobre o Novo Mundo com destaque para a Ghost Island do caribenho Lisandro Suriel, que nos convida para um mergulho pelo realismo mágico ao explorar a identidade espectral no Atlântico Negro, e a série “Warawar wawa”, filho das estrelas do boliviano River Claure, que propõe um olhar libertador das narrativas reducionistas e folclóricas da sociedade boliviana mestiça, através de um imaginário fantástico, ao recontextualizar o romance do “Pequeno Príncipe’, de Antoine de Saint-Exupéry, na cultura andina contemporânea.

Alguns vão além do modo tradicional do documentário, usando abordagens multidisciplinares para apresentar verdades e visibilizando suas comunidades, como é o caso de Yael Martínez, que explora as conexões entre pobreza, narcotráfico e crime organizado no sul do México, trabalhando com os conceitos de dor, vazio, ausência e esquecimento. Um grito também de esperança pelos povos ameríndios na obra de Guadalupe Miles: Quanto à crise civilizatória que  nos conduziu até aqui, num capitalismo devastador, cabe perguntar se nesses fragmentos dos povos ancestrais se encontra a imaginação e o poder de ensaiar uma vida possível na Terra.

Ao fazer isso, os artistas desta edição tentam preencher as lacunas que tornam as histórias convencionais incompletas. Diversos acontecimentos espalhados pelo globo parecem ter nos colocado em um estado de suspensão da realidade. Muitos argumentos distorcem ou simplificam realidades que envolvem o desenvolvimento sustentável deste planeta, a movimentação de populações vulneráveis e outros tantos temas que deveriam ser discutidos de maneira profunda e não com frases de efeito e propostas mal ajambradas.

Outros artistas recuperam uma forma alternativa de contar histórias, ao ressignificar o imaginário colonial, como é o caso da obra da espanhola Gloria Oyarzabal com Women go no Free que nos apresenta uma proposta para descolonizar o feminismo, questionando os arcabouços eurocêntricos que constroem categorias de gênero de forma universalista.

Nenhuma visão para o futuro pode ser completa sem um olhar para o passado. Muitos fotógrafos que aqui se apresentam trabalham com o arquivo – em alguns casos, escavando imagens do esquecimento ou reinterpretando outras em novos contextos, tal como a visão kitsch e apocalíptica de Diogo Moreno, que explora o inconsciente individual e coletivo presente nos álbuns de família.

Há ainda nesta coleção um convite a ser-se humano, à nossa faceta inventiva através da obra da artista suíça Dominique Teufen e a série As minhas viagens de volta ao mundo numa xerox. A ilusão parece perfeita, a nossa percepção desenha paisagens pitorescas, que na realidade são produtos de uma xerox: A imponente cordilheira é apenas um trivial pedaço de papel de seda, a praia idílica, um saco plástico e o impressionante glaciar, uma série de bolas de  algodão.

Por fim, não podemos deixar de reparar nos ventos que nos chegam do Irã, uma das mais antigas civilizações de existência humana. Por ocasião dos protestos das mulheres no Irã, o SOLAR apresenta uma instalação fotográfica da artista iraniana Hoda Afshar com imagens por ela partilhadas no Instagram. É urgente lembrar e gritar de indignação perante a morte da iraniana Mahsa Amini, a jovem de 22 anos que morreu após ser detida pelos policiais de moralidade do Irã, supostamente por usar seu hijab de forma inadequada. O regime islâmico no Irã governa há décadas sob medo e ameaças e as mulheres têm lutado sozinhas contra os hijabs obrigatórios. Como soldados solitários!

Ao libertar as narrativas históricas das garras das autorias dominantes, os artistas desta edição do Vento Solar  abrem o caminho para a imaginação de um futuro mais justo e luminoso.

Tudo é fluxo, tudo é metamorfose, “tudo é divino e maravilhoso”.

1.Bob Dylan - Blowin’ in the Wind é uma canção escrita por Bob Dylan em 1962 - Embora tenha sido descrita como uma canção de protesto, ela coloca uma série de perguntas sobre a paz, a guerra e a liberdade. O refrão “The answer, my friend, is blowin’ in the wind” (literalmente “a resposta, meu amigo, está soprando no vento”) tem sido descrita como “impenetravelmente ambígua: ou a resposta é tão óbvia, ou é tão intangível quanto o vento”.

 

ARTISTAS


CRISTINA DE MIDDEL - Fun Facts
DIEGO MORENO - Maliganal Influences
DOMINIQUE TEUFEN  - My Travels Through The World On My Copy Machine
GLORIA OYARZABAL - Women go no Free
GUADALUPE MILES - Dourada
HODA AFSHAR - Mulheres do Irã / Curadora convidada Verena Kasper
JANA NOWACK - Mistake or Miracle?
LISANDRO SURIEL - Ghost Island
RIVER CLAURE - Warawar wawa, son of the stars
SHINJI NAGABE - República das bananas
YAEL MARTÍNEZ - A flor do tempo

 

FLUXUS
Como aprender a transformar o caos em dança?


Fluxus justapõe uma realidade vivida através da colocação de balanços, levando–nos a um ambiente imaginário projetado. Ao balançar, controlamos o movimento e as pulsações emanadas pelas obras. Através dos nossos sentimentos corporais, a leitura da obra nos induz a um feedback imersivo poderoso. A suspensão do corpo e a sua transferência para um universo distinto da realidade perturba o nosso olhar.

A experiência de vertigem causada pelo balanço permite-nos observar sutilmente não só as obras espalhadas pelo espaço, mas igualmente as imagens em movimento. Esta proposta de forte sensorialidade é, em nosso entender, a melhor forma de nos deixarmos entregar à leveza da existência. Há um convite a ser-se humano, no sentido lúdico e inevitável da transformação do caos em dança. E nesta rendição a relação obra-espectador acontece. O vento torna-se numa possibilidade estética e imersiva.

CHENG XINHAO, To the Ocean, curadora convidada He Wining.
CATRINE VAL, Light matters
ELDAD RAFAELI, The Way to The High Mountain
MAPS
JOHN TROTTER, The burden of Memory
JUSTYNA MIELNIKIEWICZ, Ucrânia
KITRA CAHANA, Massacre in the fields
MASSIMO BERRUTI, Gaza
NICOLAS JANOWSKI, La Serpiente Líquida
MIND OVER MATTER: Cindy Sherman, Estelle Hanania, Ruth van Beek, Justine Kurland, Sara Bastai, Weronika Gesicka, Rebecca Hackemann, Masako Hirano, Theodora Eliezer, Eva Woolridge, Sheida Soleimani
STÉPHANE CHARPENTIER e ALYSSA MOXLEY, Radiance
SANDRA CATTANEO ADORNO, Águas de Ouro e Scarti du tempo
WORK SHOW GROW

 


A CURADORA

Ângela Berlinde (Porto, 1975) é artista, curadora e professora com Pós Doutoramento na Escola de Belas Artes da UFRJ, BR. É doutora em Comunicação Visual e Expressão Plástica pela Universidade do Minho em Portugal e tem Mestrado em Fotografia Digital, pela Utrecht School of Arts-Holanda. É co-fundadora do Festival Internacional de Fotografia e Artes Visuais  “Encontros da Imagem”, tendo colaborado com o Festival desde a última década como Diretora geral e artística. É curadora independente de festivais e exposições internacionais, incluindo a Bienal de Fotografia de Beijing, o Korea International Photo Festival e o GoaPhoto na Índia, tendo publicado obras de fotografia e texto sobre a Índia e sobre a Fotopintura no Nordeste do Brasil. É investigadora e professora auxiliar da Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias  (ULHT) em Lisboa e atua no domínio de investigação sobre as formas híbridas da fotografia. É fundadora do Atlas Digital de Fotolivros em Portugal, uma plataforma dedicada à reflexão e pensamento crítico em torno das visualidades implícitas ao fotolivro.

Integra a associação curatorial Oracle e o Conselho de Curadores do Museu da Fotografia de Fortaleza, no Brasil. Coordenou o Plano Estratégico para a fotografia na Escola Porto Iracema  (Programa de Fotopoéticas) e integra desde 2018 a equipe de Coordenação geral do Fotofestival SOLAR, no qual é consultora artística. Vive entre Portugal e Brasil.


 

SERVIÇO
QUANDO 7 de dezembro a 8 de janeiro de 2023
HORÁRIO Na semana de abertura, visitação de quinta a sábado, das 14h às 22h, com acesso até 21h30; e aos domingos, das 10h às 22h, com acesso até 21h30
ONDE PINACOTECA DO CEARÁ - Rua 24 de maio, Praça da Estação, s/n - Centro, Fortaleza - CE, 60020-000
GRATUITO. LIVRE.